Para analistas e economistas a entrada de Lula adiciona mais dúvidas e incertezas. O mercado não descarta mudanças de direção na economia e enxerga riscos de uma guinada à esqueda da política económica, com medidas na direção contrária ao ajuste fiscal. No momento, o único consenso é que a política continuará ditando os rumos da economia.
Confira abaixo a análise de economistas e analistas do mercado: Alexandre Schwartsman, o ex-diretor do Banco Central e sócio da consultoria Schwartsman & Associados Institucionalmente, considero um passo atrás. Por mais que se tente vender de que se trata de uma questão de fortalecimento do governo, a motivação principal basicamente é proteger o presidente e lhe dar foro privilegiado. O que era de alguma forma implícito se torna explícito: a presidente já não apita mais nada. Com o ex-presidente agora como uma espécie de primeiro ministro estamos replicando uma experiência do tipo da Rússia sob o Putin. O risco de uma guinada à esquerda é muito forte, mas na minha visão há uma esperança que o Lula repita o que fez em 2002 e 2003: na hora H acabou se comportando responsavelmente. Imagina-se que o governo irá querer dar um gás no crédito, mas tudo continuará submetido sob o foco da lógica política. Não será um governo que fará Reforma da Previdência ou se preocupar com o ajuste fiscal. Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da consultoria GO Associados “A primeira reação do mercado é de identificar na ida do Lula uma mudança na política económica na direção contrária ao ajuste fiscal, o que tende a gerar muito mais nervosismo e instabilidade. Mas eu seria cauteloso em dizer que isso irá acontecer, porque esse é o Lula jararaca e tem o Lula paz e amor do passado, que afinal de contas no primeiro mandato implementou políticas de ajuste. Então não devemos descartar a hipótese de reversão das expectativas. Mas no atual momento de vacas magras, com um quadro internacional totalmente diferente, com pouco raio de manobra, em que ele está sujeito a uma série de acusaçães e com o capital político parcialmente dilapidado, acho muito mais difícil uma transfiguração do Lula jararaca para o Lula paz e amor. Há um risco real que haja uma guinada à esquerda, o que seria péssimo para a economia e para o próprio governo. Como é um governo acuado, talvez fique difícil não lançar mão de uma política populista suicida, mas eu não descartaria a hipótese de uma tentativa de formular um consenso mínimo em torno de um ajuste”. Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management “A maior preocuação é querer assumir para estimular a economia, porque não existe uma fórmula. Nova Matriz Económica, cavalo de pau nos juros, uso de reservas…¦ Se for por essa linha, só na imaginação pode dar certo. Citou-se Henrique Meirelles [como possível novo integrante do governo], mas na minha opinião ele não compatibiliza com esse cenário. No curto prazo, a entrada de Lula só traz mais dúvidas e incertezas. Se se seguir uma guinada à esquerda, a perspectiva é muito ruim, com risco de mais fuga de capital, mais rebaixamento, e baixa ainda maior do investimento na economia. E se não for isso, fica também a dúvida de qual vai ser a fórmula mágica”. Estamos mais reféns de dúvidas do que de certezas. Virene Matesco, professora dos MBAs da FGV “Encaro a nomeação como uma renúncia branca — a presidente Dilma Rousseff vai delegar o cargo para o qual foi eleita ao ex-presidente Lula. Do ponto de vista económico, Lula não tem capital político e nem apoio no Congresso para implementar medidas estruturais. Suas açães devem ser aplicadas por medidas provisórias. Segundo a proposta do PT, devem ser medidas expansionistas, com aumento de gastos e de crédito, mas com impacto de pouco fólego. Serão estímulos de curto prazo. O governo não tem folga fiscal pois suas contas estão em frangalhos”. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos “O mercado reagiu de maneira no mínimo inusitada aos eventos hoje de manhã.Quando ficou evidente que Lula iria assumir de vez a Casa Civil os juros longos subiram na esteira de uma pior percepção fiscal do governo. Talvez o mercado perceba hoje que dado o imbróglio político apenas o Lula pode trazer certa pacificação a Brasília. O governo Dilma acabou, isso é certo, mas o que esperar do governo Lula?”Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados Ainda não está claro quais serão as repercussães para a política económica Fala-se de uma guinada mais à esquerda, o que eu acho difícil. Há boatos também de um possível retorno do Henrique Meirelles, o que representaria uma política mais ortodoxa e uma guinada mais à direita, ainda que não se fale em reformas estruturantes. O mercado seguirá sob expectativa dos próximos passos. Por enquanto, é tudo conversa de bastidores.