Os campos de terra espalhados pela cidade já revelaram grandes craques do futebol, como Mauro Silva, Juninho Paulista, Ronaldão e Denilson, entre outros tantos. Mas agora as mulheres também começam a despontar para o mundo. Casos de Beatriz Ferreira de Menezes e Rafaela Andrade, ambas com 18 anos e que passaram pelas escolinhas do Projeto Tigrinho. As duas integraram a Seleção Brasileira que conquistou o heptacampeonato do Sul-Americano Sub-20, realizado em Santos e que terminou no começo de dezembro.
Moradora do Jardim Ipê, a zagueira Beatriz começou na escolinha do Batistini: “Como era muito longe da minha casa, logo mudei para o Lavínia. Sempre joguei no meio de muitos meninos, mas sempre fui respeitada”, recorda.
No total foram quatro anos nas escolinhas do Tigrinho. Depois de rápida passagem pelo time feminino do São Bernardo, Beatriz foi para o Centro Olímpico de São Paulo. Esta foi sua terceira convocação para integrar a Seleção Brasileira, a segunda pelo Sub-20. “Minha meta agora é chegar à categoria principal e conquistar o mundo”, planeja.
A volante Rafaela é a outra “batateira” na seleção. Moradora do Alvarenga, aos 9 anos entrou para a escolinha e hoje joga profissionalmente pelo São Bernardo. Segundo ela, o apoio da família foi fundamental: “Passei por muitas dificuldades, e em alguns momentos até pensei em desistir. Mas tenho muita fé e acredito que, com perseverança e força de vontade, podemos superar qualquer obstáculo. Estou muito feliz, pois sempre sonhei em chegar à Seleção Brasileira.”
O Projeto Tigrinho, desenvolvido por meio de parceria entre a Prefeitura e o São Bernardo, atende cerca de 6,5 mil meninos e meninas entre 6 e 16 anos, que treinam em 31 campos espalhados pela cidade. José Rossi, o professor …− Desde 1997, portanto há 18 anos, o Campeonato de Futebol de Menores de São Bernardo passou a se chamar José Rossi (morto em 2003). Para se ter ideia do tamanho do torneio, basta dizer que foram necessários 453 jogos para definir os campeães nas diversas categorias neste 2015. A homenagem da Prefeitura foi ao ex-jogador profissional (jogou em dois times da França) que trouxe para São Bernardo o conceito das escolinhas de futebol, implementadas em 1973.
Mas José Rossi não fez história apenas por causa da sua elegância e habilidade no controle de bola. Nem porque, além de ter estudado Direito e Psicologia, era filósofo, poeta e compositor. Ele marcou a vida de todos que tiveram o privilégio de conviver e aprender com sua sabedoria. Luís Carlos Campioto e Marco Bortoletto, ambos com 51 anos, foram alguns dos alunos de José Rossi nas escolinhas na década de 1970 e integraram a equipe do Andorinhas, time que teve o “professor” como técnico desde as escolinhas até o adulto.
“Ele foi um segundo pai pra mim. Incentivava os estudos, a leitura, o respeito pela natureza e pelo próximo. Até sobre a alimentação ele (Rossi) orientava. Pedia para irmos à feira e vermos quanto alimento jogado fora ainda dava para ser reaproveitado, para evitar o desperdício. Fazíamos sopa e vitamina”, recorda Campioto, técnico da equipe feminina do São Bernardo Futebol Clube.
Para Bortoletto, José Rossi era um mestre em todos os sentidos: “Era uma pessoa com uma visão muito voltada para o social, se preocupava em oferecer condiçães aos menos favorecidos por meio do conhecimento e dos estudos. Ele exigia que tirássemos boas notas, indicava livros, unia o esporte e o intelecto. Resultado disso foi que 99% do grupo acabaram fazendo faculdade, mesmo sendo de pessoas humildes”, afirma.