Lucas é o primeiro a chegar e também o último a sair. Na terça-feira passada, devido à sua dedicação e comprometimento nas aulas, passou da faixa inicial branca para a branca ponta cinza. Além de melhorar na escola. Aos 9 anos, o menino é exemplo de que o Projeto Judó Futuro em São Caetano pode dar certo.
A ideia nasceu do professor Renato Rodrigues, que participava do Programa Tempo de Escola, que era promovido pela Prefeitura de São Bernardo e oferecia atividades para crianças no contraturno escolar. “O programa acabou na cidade, mas vi que tinha potencial para expandir em outros lugares.”
Para as aulas, Rodrigues conseguiu uma sala no CRE (Clube Recreativo Esportivo) Fundação. “O presidente do clube, Paulo Augusto Hespanholeto, cedeu o espaço que chegou a funcionar como um camarote e depois foi transformado em salas para o departamento administrativo. Aos poucos fui arrumando o local com verba própria até ficar todo adaptado.”
Hoje, os pais que podem pagar, contribuem com R$ 60 mensais. “Eu deixo muito claro que eu cobro de quem pode pagar. Esse dinheiro é justamente o que banca os alunos de baixa renda.” Que é o caso do Lucas Ferreira Guimarães Oliveira de Sousa. “O Lucas ficava na porta olhando as aulas, até o dia que ele perguntou se podia ter um kimono e participar também. Fui até a casa dos pais para pedir autorização e hoje ele é um dos mais dedicados.”
“Um amigo da escola que já fazia judó me disse onde era e eu vinha aqui assistir as aulas. Perguntei para o sensei (mestre de judó) se eu podia participar também, mas ele disse que tinha que conversar com meu pai primeiro”, contou o menino, que afirma ir bem na escola e adora as aulas de inglês.
Aos poucos, a mudança positiva no comportamento do garoto foi percebida pelos professores. No início do mês, Lucas foi parabenizado pela escola e recebeu um certificado por ter obtido nota azul no segundo trimestre. Companheiros do judó, os gêmeos Fernando e Matheus Cardoso da Silva, de 7 anos, também melhoraram o boletim depois de frequentarem o esporte. “Antes era seis e sete. Agora a média é nove e tem até 10”, conta o pai Fernando Cardoso da Silva, 33, que trabalha como assessor.
Para manter o projeto e conseguir fazer com que 90 crianças carentes tenham a oportunidade de participar do Judó Futuro no ano que vem, Rodrigues está em busca de cerca de R$ 18 mil. “É o valor que cobre as despesas dos lanches dados depois das aulas, kimonos e pagamentos dos professores. Estamos atrás do CNPJ para formalizar a ONG e conseguir parcerias.”
Os alunos serão selecionados pelas próprias escolas da cidade. “Diretora e professora fazer reunião e determinam quais são as crianças …− geralmente entre 7 e 11 anos …− que se encaixam no perfil. Na maioria das vezes são aquelas que têm problemas de higiene, falta de atenção, agressivas ou com notas baixas.”