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Confira as estreias nos cinemas – Agora somos Hoje Jornal

As estreias desta semana tem opçães para todos os gostos. Confira! “Cinquenta Tons Mais Escuros”: do sexo tórrido ao romance dos mocinhos. “Eu quero que você me bata”, diz Anastasia Steele (Dakota Johnson) a Christian Grey (Jamie Dornan), no início de uma das quatro cenas de sexo de “Cinquenta Tons Mais Escuros”.

Ainda assim, a produção estreou ontem (9) em mais de 1.200 salas de cinemas pelo país como uma versão mais leve de “Cinquenta Tons de Cinza”, o primeiro filme adaptado da trilogia erótica assinada pela britânica E. L. James. Se o primeiro filme apostou mais na tensão sexual entre os protagonistas -ele dominador experiente e ela mocinha ingênua-, o segundo resgata o conto de fadas da Gata Borralheira para mostrar o ricaço perdidamente apaixonado pela heroína que não dá bola para luxo nem dinheiro.

Então, no filme, Grey pede licença antes de bater no bumbum durinho de Ana e ainda manda ela avisá-lo se estiver doendo. Ele também brinca ao introduzir bolas de pompoarismo na amada antes de um jantar, mas, quando ela pede que ele a possua, Grey lhe solta as amarras em ato simbólico durante o sexo. Menos autoconfiante pelo fato de ter sido deixado pela amada (situação que marca o início do longa), o jovem rico abaixa a guarda e revela sua história: foi abandonado pela mãe viciada em crack. Ao crescer, não virou apenas um sadomasoquista, que gosta de brincar de dominador e dominada, mas um sádico que tem prazer com o sofrimento das mulheres. Ele, contudo, estaria disposto a abandonar essas práticas controversas para ficar com Ana.

O tal aprofundamento psicológico do mocinho não livra o filme de clichês dispensáveis, como quando ele sofre um acidente de helicóptero e, ao estilo super-herói, entra pela porta da frente do próprio apartamento, antes mesmo que os telejornais noticiassem que estava vivo. Já o maior risco para Ana ocorre quando uma das ex-submissas de Grey a coloca sob a mira de uma arma. Como um cachorrinho, porém, a menina entrega o objeto a seu dominador. Quem alivia a trama é a divertida cantora Rita Ora, que vive a irmã de Grey. Já Kim Basinger constrange como uma coroa que o assediou na juventude.

Malhado, bonito e ciente disso, Grey passa o filme ressaltando que Ana não é como as submissas. Mas será que ao ficar com ele Ana não se rende a um modelo mais velado de dominação, como tantas mulheres? O filme tem final feliz e abre espaço para a última parte da saga. Que venha “Cinquenta Tons de Liberdade”. Liberdade?

Beleza de “Redemoinho” está na austeridade Não falta quem queira esquecer o ano de 2016. Não é o caso do diretor mineiro José Luiz Villamarim, que esteve à frente de duas boas séries na Globo, “Justiça” e “Nada Será como Antes”, ambas exibidas no ano que passou.

Mas é neste começo de 2017 que ele revela seu voo mais alto, com a estreia de “Redemoinho”, seu primeiro filme.

Um trunfo inicial do projeto foi a escolha da história a ser adaptada, com base no livro “Inferno Provisório”, de Luiz Ruffato.

Por meio da obra desse autor, também mineiro, a vida de operários volta, enfim, ao cinema brasileiro de ficção, universo em que é tão raramente retratada.

Assim, “Redemoinho” se aproxima de “Eles Não Usam Black-tie” (1981) no olhar apurado para o cotidiano dessa classe média baixa.

No entanto, diferentemente do filme de Leon Hirszman, cujo núcleo central é familiar, o longa de Villamarim pãe em foco uma relação de amizade, o reencontro de Luzimar (Irandhir Santos) e Gildo (Júlio Andrade, excelente).

Depois de muito tempo afastados, eles se reveem em Cataguases, no interior de Minas Gerais.

É lá onde Luzimar, que trabalha numa tecelagem, vive desde sempre. Já Gildo trocou a pequena cidade por São Paulo décadas antes, mas volta para visitar a mãe, dona Marta (Cássia Kis Magro), na véspera de Natal. Um clima descontraído inicial se dissolve à medida que dois pontos de tensão, entrelaçados, vêm à tona.

A começar, um dilema captura diálogos e olhares: quem tomou a melhor decisão? Quem fincou raiz ou quem deixou a terra de origem?

Depois, e mais forte, emerge uma tragédia dos tempos de infância, episódio que enreda todos os personagens.

É uma sombra que o filme espreita com vagar. E desse modo, sem sobressaltos, “Redemoinho” nos deixa atónitos.

A beleza e o impacto do filme estão, em grande parte, fundados em sua austeridade, em sua recusa aos ornamentos narrativos e estéticos.

Assim são os diálogos do roteiro de George Moura, que se prendem apenas ao que está imbuído de sentido. Como diretor de fotografia, Walter Carvalho talvez tenha alcançado seu ápice até aqui. O lirismo amargo de

“Redemoinho” não existiria sem a precisão dos enquadramentos -é um filme, portanto, para ser visto no cinema.

Na tela grande, fica mais evidente, por exemplo, como a passagem do trem costura a coesão narrativa. Pelos trilhos de Cataguases, a máquina liga um personagem ao outro enquanto carrega a carga do tempo.

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